Leonardo Boff, um poderoso teólogo brasileiro da Libertação, mais famoso pela polémica que se gerou em torno da sua dissidência do que pelas suas muito boas reflexões, usou uma parábola proferida por um político ganês, James Aggrey, para falar da condição humana. Apesar da riqueza e beleza dessa parábola, prefiro uma abordagem que me ajude a crescer pela positiva e não "contra qualquer coisa".
Assim, proponho a metáfora dos ovos de galinha em Ninho de águia, com a qual proponho expressar esta tensão em direcção à grandeza que nos motiva cada dia, mas também a incapacidade constante de a alcançar em definitivo.
Parabolemos...
Um agricultor, dono de uma produção de galinhas, resolveu fazer experiências. A umas galinhas deixou-as crescer sem contacto com nenhum outro ser vivo, fazendo delas bichos incapazes de relação e até de ser, muitas morriam de fome por não terem o que imitar como forma de aprendizagem. As que descobriam sozinhas como se alimentar, morriam, ao fim de pouco tempo, num estado semelhante à loucura.
A outras deu-as a criar a gatos, cães, vacas e outros mamíferos, experiência que se mostrou desastrosa, pois à primeira oportunidade, uns deglutiam os galináceos,
não restando a mais pequena pena para contar a história, outros, com a inabilidade e falta de graciosidade natural, pisavam-nos ou sentavam os seus corpulentos rabos sobre elas, e o fim era semelhante. Depois de muitas outras experiências, o produtor levou um ovo de galinha até à montanha mais alta onde o depositou num ninho de águia. Sem grandes esperanças que resultasse e desmotivado pela íngreme subida que teria que empreender, desistiu de acompanhar a experiência.
Cerca de um ano mais tarde, movido pela curiosidade e pelo desafio, voltou ao ninho onde tinha depositado o ovo e, para seu grande espanto, encontrou uma galinha saudável e desenvolvida, capaz de voar pouco mais do que as outras galinhas, mas com um enorme desejo de o fazer. Se por fora era uma galinha, com corpo de galinha, asas de galinha e cérebro de galinha, o seu coração era tão grande como o das águias suas irmãs de adopção.
O produtor concluiu que, se não é possível fazer uma galinha voar mais do que uns metros, é possível abrir-lhe horizontes para que ela deseje mais do que o que pode, fazendo-a assim maior do que ela. E, à pergunta sobre a crueldade de deixá-la desejar o que não pode alcançar, respondeu com os pouco metros a mais que ela voou e com o horizonte com que sonhou. No fim, parafraseando o poeta disse num tom orgulhoso: "Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não, do tamanho da minha altura…"
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